Teremos estádios lotados na Copa das Confederações, considerando a grande venda de ingressos, muito superior à verificada na última edição dessa competição, realizada na África do Sul, em 2009. No final de maio, já haviam se esgotado, por exemplo, as entradas para a partida final, a ser disputada no novo Maracanã, no Rio de Janeiro. E isso sem sequer existir a certeza dos torcedores de que a Seleção Brasileira será finalista.
Mobilidade, incluindo aviões, trens, metrô, ônibus e trânsito fluente, segurança pública e salubridade ambiental são alguns dos itens essenciais para encantarmos os visitantes. No entanto, nesses quesitos estamos exatamente como a Seleção Brasileira, ou seja, perdendo, e, quando muito, empatando...
O mais grave é que temos desperdiçado chances de gol daquelas que não podem ser perdidas. Refiro-me, especificamente, à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Seu cumprimento seria um grande avanço no sentido de melhorar o meio ambiente e a aparência do meio urbano, a começar com a execução da medida que prevê a erradicação dos lixões em 2014.
Pois bem, com lei aprovada e metas definidas, estamos prestes a dar um grande chute pra fora, na cara da Copa das Confederações e às vésperas da Copa do Mundo: segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ainda há no Brasil 2.906 lixões, em 2.810 cidades, ou seja, mais da metade de nossos municípios, e apenas cerca de 20% deles realizam a coleta seletiva. Se formos cumprir a lei que instituiu a PNRS, o prazo fixado para sua eliminação é agosto do próximo ano.
Temos lei, conhecimento e tecnologia, inclusive desenvolvida pelas empresas que atuam no setor de resíduos sólidos. É preciso que a lei seja cumprida. Alega-se, de um lado, que são necessários recursos vultosos — aproximadamente R$ 70 bilhões — para a erradicação dos lixões. Ora, não temos quebrado sucessivos recordes anuais de arrecadação tributária? Ademais, a boa gestão desses projetos possibilitaria o desembolso programado, ao longo de alguns anos e não o pagamento à vista.
A sociedade precisa cobrar o cumprimento das leis e dos prazos estabelecidos por elas. Se são necessárias parcerias público-privadas para trens, metrôs, aeroportos e obras de infraestrutura, também o são para a erradicação dos lixões, que contam com o setor privado mas dependem do setor público, representado pela vontade política da União, estados e municípios e uma boa gestão de projetos. Temos oportunidade histórica de quebrar o paradigma de desrespeito ao marco legal e, ao mesmo tempo, avançar de modo significativo na qualidade ambiental do meio urbano. Não podemos perder esse gol!
*Ariovaldo Caodaglio, cientista social, biólogo, estatístico e pós-graduado em meio ambiente, é presidente do Selur (Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo).
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